quinta-feira, 6 de junho de 2013

Livre Arbítrio e Liberdade

Trabalho em um call center e sou supervisor de atendimento. Esta semana, em uma conversa com um dos meus agentes, paramos para pensar um pouco sobre liberdade e livre-arbítrio algumas coisas me fizeram refletir sobre este tema.

A conversa girou em torno da temática “Não ser escravo de...” logo, ser livre. E falávamos em liberdade plena, de poder escolher e coisas assim. Passou a conversa, ele voltou para seu atendimento e pensei: Será que existe mesmo essa tal liberdade? Será que há livre arbítrio ou será que apenas existe uma “ação livre”?
Não tenho a intensão de bater o martelo se existe ou não, mas sim de manifestar aqui meu ponto de vista e este, segue abaixo.

Livre arbítrio


Estava lendo um sermão do Charles H Spurgeon pregado em 1855[1] sobre o tema e este sermão me chamou a atenção. Certo, eu sei, faz mais de 150 anos e muita coisa já foi revista sobre o tema, mas mesmo assim vou citá-lo.
Segundo Spurgeon (1855) o livre arbítrio não existe, ele baseia sua mensagem no evangelho de João, capítulo 5, verso 40.

Contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.”
João 5:40

Spurgeon afirma nesta mensagem,  baseado neste trecho, que o homem não pode ser livre, visto que ele é um condenado a morte, assim como os detentos que vão para o corredor da morte não pode reclamar seus direitos, sua cidadania, suas vontades por estar morto, não factualmente, mas sim legalmente. Ao ler essa mensagem entendo que essa morte é a punição sofrida pelo homem lá no Genesis, o homem não morreu de fato, mas está fadado a ela. É também é morte eterna, a segunda morte, isto é a condenação do homem ao inferno.

Eu vou um pouco mais longe dizendo que cada atitude humana é composta de um conjunto de fatores que culminou a aquela determinada situação. Logo vários acontecimentos contribuíram para que aquele ser humano em questão tomasse ou não uma determinada atitude. Sendo assim, a atitude humana não pode ser considerada livre, mas sim o resultado final de milhares de equações.

Uma definição do termo LIVRE ARBÍTRIO é: “A faculdade de decidir, escolher, determinar LIVREMENTE, dependente apenas da vontade.”

Então, desta maneira, podemos afirmar: O Livre arbítrio, da maneira como ele é pregado e falado NÃO EXISTE. Primeiro, porque um morto não tem vontades a reclamar. Segundo porque, a vontade é um resultado de equações que foram determinadas pelas variáveis da vida de cada um, então não são atitudes verdadeiramente livres.

Mas calma, não finalizei o meu raciocínio ainda...

Esse tipo de livre arbítrio de fato não existe, ele não faz o menor sentido e não acrescenta nada pensar que essa é definição bíblica do tema.

Uma definição mais palatável (e ao meu ponto de vista, a mais adequada) é a de Agostinho de Hipona (santo Agostinho para os íntimos) em seu livro “De Libero Arbitrio” que data de 360 D.C que define Livre Arbítrio como a possibilidade de escolher tanto o bem quanto o mal.
E pensando nesta definição podemos encontrar várias passagens que apoiam e embasam esta definição, citarei ao menos uma como exemplo.

“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo “
Apocalipse 3:20

Quem vai abrir a porta? Quem ouvir e  QUISER, pois ele pode ouvir e não abrir a porta.

“Busquem o Senhor enquanto se pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto. “
Isaías 55:6

Nestas passagens vemos que a atitude de busca é do homem, Deus é soberano e ainda assim vem atrás de nós, mas se não o quisermos ele respeita.

Obviamente que a intenção aqui não é discutir o conceito de graça preveniente dentro do arminianismo, só para que fique claro, minha orientação é arminiana, entendo que o homem é 100% corrompido e, por si só, não pode se achegar a Deus, mas através da graça preveniente o Senhor permite que demos um passo em sua direção.

O próprio estado de condenação nos demonstra o exercício do livre arbítrio, a segunda morte (ida para o Inferno, submundo, Sheol, Hades, ou qualquer nome que você queira dar) nada mais é do que a plena condição de uma não-vida SEM DEUS no único lugar em que ele não estará, entretanto devido a falta de capacidade humana em definir o que será uma existência sem o Senhor, fica mais fácil fazer a comparação com o que mais assombra a humanidade: A Morte. Mas que faz essa opção é o homem. Admitirmos que a humanidade não possui essa possibilidade de escolha é a mesma coisa que dizermos que Deus já tem uma patotinha escolhida. Ou seja, Deus não seria lá muito justo.

Então livre arbítrio não é decidir livremente dependendo apenas da minha vontade, mas sim a possibilidade da escolha, normalmente entre o bem e o mal.

Liberdade

A definição de liberdade dada pela filosofia é: A independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. Como “independência do ser humano” é algo impossível, visto que o homem é um ser social, relacional e interdependente a liberdade torna-se um conceito utópico.

Sim utópico, esse é um conceito ideal, só existiria isso se todos os membros de uma determinada sociedade deixassem de ser sociedade para se tornar individualidade, num estado que mesmo com coabitação um ser humano poderia ser completamente autônomo. Bom, trabalhar em cima deste conceito renderia um livro, fica para outra ocasião.

Prefiro entender que liberdade é a ausência de prisão, todo e qualquer grilhão que possa causar um cativeiro priva de liberdade, limita e emoldura o ser humano.

Esse grilhão pode ser qualquer coisa, desde vícios, até família (sim, família, ou vai me dizer que não existem famílias onde os membros imprimem sentimentos consumidores que minam as forças dos outros membros?)
Mas aí surge um cabra chamado Jesus e diz:     

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”
João 8:36

Pera aí, existe alguém que pode quebrar todos os grilhões de nossa vida, tornar o ser humano autônomo e espontâneo ainda sendo um ser relacional e interdependente?

É, tem...

Esse será o resultado de uma sociedade perfeita onde não haverá busca por solução de problemas, pois não os haverá, não buscará riquezas, pois não precisará, não egoísta e egocêntrica. O homem precisará “preocupar-se” apenas em prestar sua adoração (autonomia) e seu louvor (relacional).

Indo um pouquinho só mais a fundo neste texto vemos o Mestre dizendo: “o escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho tem”. Entendemos assim, que os que são escravos do pecado, terão suas amarras soltas pelo filho fazendo-o livre a partir daquele momento, entretanto devido o estado geral da humanidade ser de cativeiro, esse recém-liberto não conseguirá (pelo simples fato dele conviver no meio destes cativos) exercer sua plena liberdade, até conseguiria, o próprio Mestre é referência nisto, mas temos um pequeno probleminha, as vezes deixamos o “velho homem” aparecer. Por isso afirmo apenas um estado de convívio continuo na presença do Criador pode fazer com que o estado de liberdade seja degustado.

Oremos para que cada vez mais pessoas encontrem a possibilidade de serem libertas

E encerro por aqui, pois isso já deu 3 páginas do Word. rs




[1] Spurgeon, C. H. – Free Will, A Slave – disponível em http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/Livre_Spurgeon.htm  acessado em 05/06/13 as 23:40