A conversa girou em torno da temática “Não ser escravo
de...” logo, ser livre. E falávamos em liberdade plena, de poder escolher e
coisas assim. Passou a conversa, ele voltou para seu atendimento e pensei: Será
que existe mesmo essa tal liberdade? Será que há livre arbítrio ou será que
apenas existe uma “ação livre”?
Não tenho a intensão de bater o martelo se existe ou não,
mas sim de manifestar aqui meu ponto de vista e este, segue abaixo.
Livre arbítrio
Estava lendo um sermão do Charles H Spurgeon pregado em 1855[1]
sobre o tema e este sermão me chamou a atenção. Certo, eu sei, faz mais de 150
anos e muita coisa já foi revista sobre o tema, mas mesmo assim vou citá-lo.
Segundo Spurgeon (1855) o livre arbítrio não existe, ele
baseia sua mensagem no evangelho de João, capítulo 5, verso 40.
“Contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida.”
João 5:40
João 5:40
Spurgeon afirma nesta mensagem, baseado neste trecho, que o homem não pode
ser livre, visto que ele é um condenado a morte, assim como os detentos que vão
para o corredor da morte não pode reclamar seus direitos, sua cidadania, suas
vontades por estar morto, não factualmente, mas sim legalmente. Ao ler essa
mensagem entendo que essa morte é a punição sofrida pelo homem lá no Genesis, o
homem não morreu de fato, mas está fadado a ela. É também é morte eterna, a
segunda morte, isto é a condenação do homem ao inferno.
Eu vou um pouco mais longe dizendo que cada atitude humana é
composta de um conjunto de fatores que culminou a aquela determinada situação.
Logo vários acontecimentos contribuíram para que aquele ser humano em questão
tomasse ou não uma determinada atitude. Sendo assim, a atitude humana não pode
ser considerada livre, mas sim o resultado final de milhares de equações.
Uma definição do termo LIVRE ARBÍTRIO é: “A faculdade de
decidir, escolher, determinar LIVREMENTE, dependente apenas da vontade.”
Então, desta maneira, podemos afirmar: O Livre arbítrio, da
maneira como ele é pregado e falado NÃO EXISTE. Primeiro, porque um morto não
tem vontades a reclamar. Segundo porque, a vontade é um resultado de equações
que foram determinadas pelas variáveis da vida de cada um, então não são
atitudes verdadeiramente livres.
Mas calma, não finalizei o meu raciocínio ainda...
Esse tipo de livre arbítrio de fato não existe, ele não faz
o menor sentido e não acrescenta nada pensar que essa é definição bíblica do
tema.
Uma definição mais palatável (e ao meu ponto de vista, a
mais adequada) é a de Agostinho de Hipona (santo Agostinho para os íntimos) em
seu livro “De Libero Arbitrio” que
data de 360 D.C que define Livre Arbítrio como a possibilidade de escolher
tanto o bem quanto o mal.
E pensando nesta definição podemos encontrar várias
passagens que apoiam e embasam esta definição, citarei ao menos uma como
exemplo.
“Eis que estou à porta e bato.
Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele
comigo “
Apocalipse 3:20
Apocalipse 3:20
Quem vai abrir a porta? Quem ouvir e QUISER, pois ele pode ouvir e não abrir a
porta.
“Busquem o Senhor enquanto se
pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto. “
Isaías 55:6
Isaías 55:6
Nestas passagens vemos que a atitude de busca é do homem,
Deus é soberano e ainda assim vem atrás de nós, mas se não o quisermos ele
respeita.
Obviamente que a intenção aqui não é discutir o conceito de graça preveniente dentro do arminianismo, só para que fique claro, minha orientação é arminiana, entendo que o homem é 100% corrompido e, por si só, não pode se achegar a Deus, mas através da graça preveniente o Senhor permite que demos um passo em sua direção.
Obviamente que a intenção aqui não é discutir o conceito de graça preveniente dentro do arminianismo, só para que fique claro, minha orientação é arminiana, entendo que o homem é 100% corrompido e, por si só, não pode se achegar a Deus, mas através da graça preveniente o Senhor permite que demos um passo em sua direção.
O próprio estado de condenação nos demonstra o exercício do
livre arbítrio, a segunda morte (ida para o Inferno, submundo, Sheol, Hades, ou
qualquer nome que você queira dar) nada mais é do que a plena condição de uma
não-vida SEM DEUS no único lugar em que ele não estará, entretanto devido a
falta de capacidade humana em definir o que será uma existência sem o Senhor,
fica mais fácil fazer a comparação com o que mais assombra a humanidade: A
Morte. Mas que faz essa opção é o homem. Admitirmos que a humanidade não possui
essa possibilidade de escolha é a mesma coisa que dizermos que Deus já tem uma
patotinha escolhida. Ou seja, Deus não seria lá muito justo.
Então livre arbítrio
não é decidir livremente dependendo apenas da minha vontade, mas sim a possibilidade
da escolha, normalmente entre o bem e o mal.
Liberdade
A definição de liberdade dada pela filosofia é: A
independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. Como
“independência do ser humano” é algo impossível, visto que o homem é um ser
social, relacional e interdependente a liberdade torna-se um conceito utópico.
Sim utópico, esse é um conceito ideal, só existiria isso se todos
os membros de uma determinada sociedade deixassem de ser sociedade para se
tornar individualidade, num estado que mesmo com coabitação um ser humano
poderia ser completamente autônomo. Bom, trabalhar em cima deste conceito
renderia um livro, fica para outra ocasião.
Prefiro entender que liberdade é a ausência de prisão, todo
e qualquer grilhão que possa causar um cativeiro priva de liberdade, limita e
emoldura o ser humano.
Esse grilhão pode ser qualquer coisa, desde vícios, até família
(sim, família, ou vai me dizer que não existem famílias onde os membros
imprimem sentimentos consumidores que minam as forças dos outros membros?)
Mas aí surge um cabra chamado Jesus e diz:
“Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres.”
João 8:36
João 8:36
Pera aí, existe alguém que pode quebrar todos os grilhões de
nossa vida, tornar o ser humano autônomo e espontâneo ainda sendo um ser
relacional e interdependente?
É, tem...
Esse será o resultado de uma sociedade perfeita onde não
haverá busca por solução de problemas, pois não os haverá, não buscará
riquezas, pois não precisará, não egoísta e egocêntrica. O homem precisará “preocupar-se”
apenas em prestar sua adoração (autonomia) e seu louvor (relacional).
Indo um pouquinho só mais a fundo neste texto vemos o Mestre
dizendo: “o escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho tem”.
Entendemos assim, que os que são escravos do pecado, terão suas amarras soltas
pelo filho fazendo-o livre a partir daquele momento, entretanto devido o estado
geral da humanidade ser de cativeiro, esse recém-liberto não conseguirá (pelo
simples fato dele conviver no meio destes cativos) exercer sua plena liberdade,
até conseguiria, o próprio Mestre é referência nisto, mas temos um pequeno
probleminha, as vezes deixamos o “velho homem” aparecer. Por isso afirmo apenas
um estado de convívio continuo na presença do Criador pode fazer com que o
estado de liberdade seja degustado.
Oremos para que cada vez mais pessoas encontrem a
possibilidade de serem libertas
E encerro por aqui, pois isso já deu 3 páginas do Word. rs
[1] Spurgeon,
C. H. – Free Will, A Slave – disponível em http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/Livre_Spurgeon.htm acessado em 05/06/13 as 23:40