terça-feira, 8 de setembro de 2015

Os Evangelhos Pt 4

O tempo quando foram escritos os Evangelhos

Não podemos precisar com exatidão quando cada um dos livros do Novo Testamento foi escrito. Entretanto não há dúvida de que todos foram escritos na segunda metade do primeiro século. Isto é evidente pelo fato de que uma série de escritas no segundo século - como as Apologias do Santo Mártir Justino o filósofo, escritas no ano 150, as obras poéticas do autor pagão Celso, escritas no segundo século e especialmente as epístolas do bispo-mártir Inácio Teóforo de Antioquia, escritas aprox. em 107 A.D. - todos fazem inúmeras referências aos livros do Novo Testamento.
Os primeiros livros do Novo Testamento foram às epístolas dos apóstolos, escritas por causa da necessidade de fortalecer a fé das recém-fundadas comunidades cristãs. Em pouco tempo também surgiu à necessidade de uma documentação sistemática da vida e dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não importa o quão exaustivamente os chamados "críticos contraditórios" se esforçaram em minar a confiança na autenticidade histórica dos evangelhos e outros livros sagrados, afirmando que apareceram muito mais tarde (Bauer e sua escola), os novos achados na literatura patrística da igreja (especialmente os antigos trabalhos dos Santos Pais da Igreja), nos atestam que todos os quatro evangelhos foram de fato escritos no primeiro século.

Pelas inúmeras deduções podemos concluir que o evangelho de São Mateus foi escrito primeiro e no máximo 50-60 anos depois do nascimento de Cristo. O evangelho de São Marcos e São Lucas foram escritos mais tarde, mas certamente antes da destruição de Jerusalém, ou seja, antes de 70 A.D. São João o Teólogo escreveu o seu evangelho depois dos outros e muito provavelmente no final do primeiro século, quando estava com mais de 90 anos. Algum tempo antes ele escreveu o Apocalipse ou o Livro da Revelação. Os Atos dos Apóstolos foram escritos logo após o evangelho de São Lucas e como indicado no prefácio, servem como continuação do evangelho de São Lucas.


Erivado Lima

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Os Evangelhos Pt 3

História dos textos dos Evangelhos
 
Todos os livros Sagrados do Novo Testamento foram escritos na língua grega, mais especificamente, no popular dialeto alexandrino chamado kini, que era a língua mais falada ou pelo menos compreendida pelos homens cultos de todas as localidades do Oriente e do Ocidente do Império Romano. Esse era o idioma de todos os homens instruídos daquela época. Por essa razão os Evangelistas usaram o grego e não o hebreu para escrever os Evangelhos, a fim de torná-lo acessível a um maior número de pessoas.
Naquele tempo a escrita usava somente as letras maiúsculas do alfabeto grego, não usava nenhuma pontuação e não separava as palavras. As minúsculas e o espaçamento entre palavras passaram a ser usadas somente no século IX. A pontuação veio somente com o aparecimento da imprensa no século XV. A separação dos capítulos foi introduzida no ocidente pelo Cardeal Hugo no século XIII e a separação em versículos foi feita pelo tipógrafo parisiense Roberto Stefan no século XVI.
Através de seus sábios bispos e presbíteros a Igreja sempre zelava pela preservação dos textos sagrados na sua pureza original, principalmente antes do aparecimento da imprensa, tempo em que os textos eram copiados manualmente, onde erros poderiam se infiltrar em novas cópias. É sabido que alguns estudiosos cristãos do século II e III, como Orígenes, Esequias - bispo do Egito e Luciano, presbítero de Antioquia trabalharam com muito empenho nos aditamentos aos textos bíblicos. Com a invenção da imprensa foi dada uma especial atenção à reprodução dos Livros Sagrados do Novo Testamento, para assegurar que fossem copiados dos manuscritos mais antigos e confiáveis. Durante o primeiro quarto do século XVI apareceram duas publicações do Novo Testamento em grego: "O Livro Completo das Escrituras," publicado na Espanha e a edição de Erasmo de Rotterdam na Basiléia. É importante mencionar a edição de Tischendorf, no fim do século passado, resultado de um trabalho de comparação de novecentos manuscritos do Novo Testamento.
Tanto estes trabalhos críticos como principalmente os incansáveis esforços da Igreja habitada e guiada pelo Espirito Santo, nos asseguram que nos dias de hoje possuímos o texto grego puro e não adulterado dos Livros Sagrados. Podemos afirmar que estes livros são os mais genuínos porque é a melhor edição de todos os livros antigos.


Erivaldo Lima

Os Evangelhos pt 2

Mais um texto do meu amigo Erivaldo Lima. Texto da série "Os Evangelhos"

Introdução

A palavra Evangelho significa boa nova ou boa mensagem. Este termo designa os quatro primeiros livros do Novo Testamento que relatam a vida e os ensinamentos do encarnado Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo - tudo o que fez para estabelecer uma vida reta e justa na terra e para salvar a humanidade pecadora.
Antes da vinda de Cristo os homens entendiam Deus como o Criador Todo Poderoso e implacável Juiz na Sua morada em inatingível glória. Jesus Cristo nos abriu um novo entendimento sobre Deus, o Deus próximo a nós, misericordioso e Pai que nos ama. Jesus Cristo disse a seus contemporâneos: "quem me vê, vê também o Pai" De fato, a imagem de Jesus Cristo, cada aspecto particular cada palavra e gesto estavam impregnados de infinita compaixão. Ele era o Médico para os doentes. As pessoas sentiam o Seu amor e eram atraídas por Ele e seguiam-no aos milhares. Nunca ninguém soube de alguma recusa. Cristo atendia a todos. Purificava as almas dos pecadores, curava os doentes e cegos, confortava os desesperados e libertava os possuídos pelos demônios. E, ao mesmo tempo, à sua ordem todos se subjugavam, a natureza e até a própria morte.
Através deste livreto mostraremos ao leitor em que circunstâncias os evangelhos foram escritos e apresentaremos ensinamentos selecionados do nosso Redentor. É de nosso desejo que o leitor venha a se aprofundar na vida e nos ensinamentos do Salvador, pois, quanto maior é nossa experiência espiritual à medida que passamos a ler mais os evangelhos mais fortes se torna nossa fé e mais claramente passamos a entender o sentido da nossa vida terrena. Também, quanto maior é nossa experiência espiritual, mais evidente se torna a nossa proximidade com o Salvador. Ele verdadeiramente passa a ser o nosso Bom Pastor que nos orienta para o caminho da salvação.

Nos dias de hoje principalmente, quando tantas opiniões contraditórias e infundadas aparecem, seria mais sábio que fizéssemos dos evangelhos o nosso livro de referência. Pois, enquanto todos os livros que lemos contêm opinião de homens comuns os evangelhos revelam-nos as palavras eternas do Senhor.



quinta-feira, 30 de julho de 2015

Eu não mereço

Quando penso nessa frase, me vem à mente uma situação muito ruim que passamos, mas que oriunda de atitude de terceiros. Alguém faz algo que de modo direto ou indireto nos prejudica, então dizemos: “eu não mereço”.

Ai, começamos a pensar sobre o assunto MÉRITO. O que merecemos? O que não merecemos? Será que recebemos tudo o que merecemos? Ou ainda nos falta algo?

E se nos falta algo que merecemos, como e quando vamos recebê-lo?

Se tratarmos apensa de conceitos humanos, merecemos muita coisa, por exemplo, nosso suado salário no quinto dia útil. Merecemos isso, fizemos por onde obtê-lo, a bíblia diz que o trabalhador merece seu salário (1 Tm 5:18b), ou em versões mais antigas: “digno é o obreiro de seu salário”.

Mas e quando isso transcende ao âmbito humano?

Quando transcende ao âmbito humano, quando a questão do mérito vem para o âmbito divino precisamos utilizar mais dois termos: Misericórdia e Graça.

Mas vamos prosseguir com a questão do Mérito, o que será que merecemos de Deus? Benção? Prosperidade? Vitória?
Vamos a alguns textos:

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois elas não têm fim; Lamentações 3:22.

Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.  Apocalipse 3:17.

O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Salmos 103:8-10.

Vemos por esses textos que o que merecemos é ser destruídos: TODOS pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3:23). O homem buscou o estado de condenação eterna, então merece este estado de condenação, mas graças a Misericórdia de Deus, não somos consumidos.

Mas o que é Misericórdia? Misericórdia é o favor divino que não merecemos, sempre que Deus não nos dá algo que merecemos, isso é misericórdia.

A origem da palavra é Latina, vem de miseratio (sofrimento, compadecimento) e cordis (coração) cuja tradução literal é “coração compadecido”. Em hebraico, língua do antigo textamento, a palavra é  רחמים  (Hesed) que trás significado de amor, bondade, benevolência. Então, quando a bíblia, em seu antigo testamento, nos fala de misericórdia, ela está falando do exercício do amor, da bondade e da benevolência e só deste modo podemos ter um coração compadecido de verdade. Em Grego, língua do novo testamento a palavra é ἔλεος (Éléos) esta palavra amplia o sentido do original (hesed) dando um significado ainda maior, representando “o desejo de compartilhar incondicionalmente, representa ainda a vontade de doar tudo de si mesmo e a generosidade sem preconceitos, a íntima compaixão”. CAMARGO (2015)[1] 

Do mesmo modo com que Deus faz conosco.

Como falei, como pecadores, merecemos a morte, merecemos a condenação, mas pela misericórdia de Deus, Jesus veio a terra para redimir todo aquele que nele crê (Joao 3:16).
Por vezes vemos pessoas sofrendo a consequência de seus pecados, ou até de erros alheios, quando vemos acontecer esse tipo de sofrimento, é fundamental que nós como Cristãos exerçamos misericórdia.
Diz a palavra de Deus:

Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo. Gálatas 6:2

A misericórdia de Deus não pode ser comprada, ou conquistada, nem merecida. Ela é voluntária de acordo somente com a vontade dele.

Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão". Romanos 9:15

E Deus respondeu: "Diante de você farei passar toda a minha bondade, e diante de você proclamarei o meu nome: o Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão". Êxodo 33:19

Mas aí podemos perguntar, “então, de quem Deus tem misericórdia?” aí podemos entrar na segunda parte desta mensagem: Deus exerce Graça em favor da humanidade.
Mas o que é a graça? Graça é o favor divino que não merecemos. É o mover de Deus em direção ao homem pecador.
Nada podemos fazer para alcançar o favor divino, a graça de Deus também é voluntária, ele dá para quem ele quer.

Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho. 2 Timóteo 1:8-10

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2:8,9

A palavra graça também vem do latim, Gratia, que significa literalmente Gratidão. Isso significa que Deus é grato a nós? Não, é exatamente o contrário, nós é que temos que ser grato a Deus por tudo o que ele tem feito por nós, pois não merecemos nada Dele, ele nos dá por sua graça e por seu amor.
A palavra em grego é cariV (Charis), seu significado é muito amplo, e traz o sentido de graciosidade, beneficio, favor, presente, alegria, generosidade e prazer, além do sentido de gratidão.

Então Graça é a atitude divina de nos beneficiar, nos dar um presente, ser generoso e nossa obrigação é ser grato a Deus, nos alegrar pelo favor imerecido. Pela graça de Deus, temos a oportunidade, através de Jesus Cristo de estar na presença Dele, de lhe render culto e glória. Pela graça de Deus podemos abrir os olhos todas as manhãs e desfrutar do sol, da chuva, do oxigênio, de tudo o que foi criado. Deus é tão maravilhoso, e sua Graça é tão grande que ela atinge também os ímpios.

Através de sua graça comum, Deus permite que o sol raie sobre bons e maus e a chuva derrame sobre justos e injustos (Mt 5:45b).
Através de sua graça preveniente Deus permite que homens compreendam que Jesus é o Messias, redentor e salvador deste mundo.
Através de sua graça redentora, Deus regenera o coração do homem através de Cristo e o faz nova Criação.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados  os homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. 2 Coríntios 5:17-19

A graça de Deus nos constrange. Tem que nos constranger.

Imaginem a seguinte cena:
Sabe aquele amigo que sempre está te ajudando? Sempre que você tem um problema, acaba recorrendo a ele? Esse amigo pode ser simplesmente um amigo, mas pode ser familiar, pai, mãe, tio, irmão, primo etc. Chega um momento que ficamos sem jeito, ficamos com vergonha de pedir mais uma ajuda. Ficamos constrangidos de dizer, olha, preciso novamente da sua ajuda. Pois esse “abuso” do direito de pedir ajuda provoca em nós um sentimento de querer melhorar para deixar de pedir essa ajuda para esse amigo.

Tem que ser assim com a graça de Deus. Não que temos que procurar não pedir nada a ele, pelo contrário, devemos recorrer a Deus O TEMPO TODO, mas a graça dele TEM que nos constranger, no sentido de provocar em nós o desejo de mudar, o desejo de melhorar, o desejo de fazer mais a vontade Dele em detrimento da nossa.

Concluindo: A Misericórdia e a Graça de Deus são manifestas em nossas vidas diariamente, Deus tem todo o poder, todo o controle em suas mãos, mas nos ama de tal modo que quer um relacionamento íntimo e sincero conosco.
Para isso ele trata com benevolência um ser que não merece sequer o privilégio de existir, ele faz filhos seres que não merecem estar em sua presença e como se isso não bastasse, ele dá um presente valiosíssimo para que outras pessoas tenham o privilégio de chama-lo de Pai.
Deus deseja que nossas vidas sejam repletas da sua graça de misericórdia e quer que tenhamos a mesma atitude uns para com os outros.

Que nossa vida seja dedicada a propagar esse imenso amor, demonstrando graça e misericórdia com todos.

E encerro com uma frase do bispo Robinson Cavalcanti:
“A missão da igreja é manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de Deus que será consumado ali e além




[1] CAMARGO, Paulo, Misericórdia no Antigo e no Novo Testamento,   http://jardimgrauna.adindianopolis.com.br/estudos-biblicos/misericordia-no-antigo-e-no-novo-testamento acessado em 30/07/2015.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Os Evangelhos

Olá, 

começo hoje uma nova série, a série "Os Evangelhos"!


os textos que serão publicados a partir de hoje são de autoria do meu amigo e irmão Erivaldo Lima, eles tem como finalidade, mostrar as características dos quatro evangelhos, suas semelhanças e diferenças, teologia, publico alvo e etc. 


O texto segue os padrões que tento colocar neste blog, palavras mais simples, fácil entendimento e bom conteúdo. Espero que apreciem.




Prefácio

A simples leitura dos Evangelhos conduz logo a uma primeira classificação, que é resultante da constatação, de um lado, de que existe uma ampla coincidência da parte de Mateus, Marcos e Lucas quanto aos temas de que tratam e quanto à disposição dos elementos narrativos que introduzem e por outro, o Evangelho de João, cuja aparição foi posterior à dos outros três, parece ter sido escrito com o propósito de suplementar os relatos anteriores com uma nova e distinta visão da vida de Jesus (acerca dos temas e dos fatos, ver as Introduções aos Evangelhos). Porque, de fato, com exceção dos acontecimentos que formavam a história da paixão de Jesus, apenas três dos fatos referidos por João (1.19-28 6.1-13 e 6.16-21) encontram-se também consignados nos outros Evangelhos. Daí se conclui que, assim como o Evangelho Segundo João requer uma consideração à parte, os de Mateus, Marcos e Lucas estão estreitamente relacionados. Seguindo vias paralelas, oferecem nas suas respectivas narrações três enfoques diferentes da vida do Senhor. Por causa desse paralelismo, pelas muitas analogias que aproximam esses Evangelhos tanto na matéria exposta como na forma de dispô-la, vêm sendo designados desde o séc. XVIII como "os sinóticos", palavra tomada do grego e equivalente a "visão simultânea" de alguma coisa. 

Os sinóticos começaram a aparecer provavelmente em torno do ano 70. Depois da publicação do Evangelho segundo Marcos, escreveu-se primeiro o de Mateus e depois o de Lucas. Ambos serviram-se, em maior ou menor medida, da quase totalidade dos materiais incorporados em Marcos, reelaborando-os e ampliando-os com outros. Por essa razão, Marcos está quase integralmente representado nas páginas de Mateus e de Lucas. Quanto aos novos materiais mencionados, isto é, os que não se encontra em Marcos, uma parte foram aproveitada simultaneamente por Mateus e Lucas, e a outra foi usada por cada um deles de maneira exclusiva. 

Apesar de que os autores sinóticos tenham redigido textos paralelos, fizeram-no de pontos de vista diferentes e contribuindo cada qual com a sua própria personalidade, cultura e estilo literário. Por isso, a obra dos evangelistas não surge como o produto de uma elaboração conjunta, mas como um feito singular desde seus delineamentos iniciais até a sua realização definitiva. Quanto aos objetivos, também são diferentes em cada caso: enquanto Mateus contempla a Jesus de Nazaré como o Messias anunciado profeticamente, Marcos o vê como a manifestação do poder de Deus, e Lucas, como o Salvador de um mundo perdido por causa do pecado.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A questão da maioridade penal


Essa semana foi votada e aprovada a lei que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos para crimes hediondos. Novamente vejo uma guerra ideológica formada dentro do evangelicalismo moderno. De um lado um nicho cristão bradando aos quatro ventos que são contra a redução da maioridade penal, de outro os demais cristãos que são a favor, assim como a maior parte da população brasileira. Acontece que esse primeiro grupo diz que os evangélicos que são a favor não entenderam ou não conhecem a Cristo ou, que a opinião da pessoa como político não reflete sua cosmovisão cristã e por isso ela não a representa (salvo exceções, o discurso é basicamente esse). O principal argumento desse grupo é de que “Redução não é a solução”.
O primeiro problema que encontro com o discurso deste grupo é de que não posso dizer que uma pessoa conhece ou não a Cristo por uma simples posição política, esse julgamento não pode ser feito de maneira tão leviana. Só conseguimos TER UMA NOÇÃO de quem conhece a Cristo, ou não, pelas obras que praticam, não por uma, mas pelo conjunto delas, as obras mostram a fé das pessoas (Tiago 2:18).
O segundo problema começa com uma concordância da minha parte. Também tenho convicção de que redução não é a solução. De fato não é! É fundamental que haja uma série de alterações na lei, investimento em educação e políticas sócio-ambientais, mudança de paradigmas, programas de inclusão e outras soluções para que retiremos a maior quantidade possível de jovens da criminalidade. Mas entendo que entre essas soluções está a redução da maioridade penal para crimes hediondos. Etimologicamente hediondo vem do latim significa que algo é extremamente fétido, desagradável, juridicamente é aquele crime que causa repulsão. Entendo que uma pessoa que chega ao ponto de cometer um crime que causa repulsão tem plena consciência dos seus atos. Não é algo banal, um pequeno desvio de conduta que dá pra ser acertado com uma medida sócio-educativa. É algo que mostra que a permanência dessa pessoa em liberdade pode prejudicar ainda mais a sociedade. Essa pessoa é nociva às outras, por isso ela não deve ficar detida, pois comete atos repulsivos deliberadamente. Para que fique claro, segundo o código penal os crimes considerados hediondos são:
·         Homicídio simples e qualificado
·         latrocínio,
·         extorsão qualificada pela morte,
·         extorsão mediante sequestro,
·         estupro,
·         estupro de vulnerável,
·          epidemia com resultado morte,
·         falsificação ou alteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais
·         genocídio.
Tem se olhado essa redução apenas como a tentativa de punição, mas entendo que além de punição é, também, prevenção, retira-se a liberdade dessa pessoa para que ela não mais represente perigo para sociedade. Alguém que comete tais atrocidades não pode ser tratado como incapaz de responder por seus atos. O único que pode recuperar essa pessoa é Cristo, através de sua graça redentora e, para que o Espírito Santo convença do pecado, da justiça e do juízo, é indiferente ela estar presa ou em liberdade. Deus age sob quaisquer condições.
Realmente é preciso um conjunto de mudanças para que consigamos reduzir os índices de criminalidade entre os menores, mas a redução da maioridade penal nos casos de crimes hediondos é fundamental para que a sociedade seja privada de alguns criminosos cruéis que se valem por terem menos de 18 anos.

Para finalizar, a redução da maioridade penal em casos de crimes hediondos é necessária para preservar a integridade física da sociedade. Privar a liberdade de um para salvar um grupo não só é justo como é necessário. Obviamente as medidas não podem parar por aí. Políticas de prevenção de formação de novos delinquentes tem que ser discutidas PRA ONTEM. O fato de eu ser a favor desta lei não diz que sou menos Cristão do que quem é contra, diz apenas que possuímos visões diferentes, assim como calvinistas e arminianos, premilenistas e amilenistas, dicotômicos e tricotômicos e etc. Novamente digo que é importante convivermos com as diferenças de opinião e é fundamental o respeito, a tolerância e, acima de tudo, o amor. É isso...

domingo, 28 de junho de 2015

A cerca da Parada Gay e do casamento Gay

A quantidade de besteiras que li essa semana passou dos limites. De um lado o Ativismo Gay, que consegue ser mais chato que o Ativismo Feminista, tentando fazer descer goela abaixo de todos a sua orientação sexual. Do outro, os “evangélicos” (sim, entre aspas porque estes parecem não ter entendido NADA do que o Senhor nos fala através da bíblia).

A guerra já havia sido declarada há algum tempo, mas parece que o ápice do confronto se deu quando Viviany Beleboni apareceu crucificada na parada Gay. Após esse fato, evangélicos se manifestaram dizendo que a cruz foi desrespeitada e profanada, que era desrespeito a Deus, se sentiram ofendidos. De inicio, até imaginei que isso se tratava de uma tentativa de afrontar o evangelicalismo moderno, mas depois, ao ler diversos relatos, entendi a manifestação que foi proposta com essa atitude. O que me causou estranheza foi a reação de alguns guetos evangélicos que se sentiram ofendidos e tentaram transferir esse sentimento de ofensa à uma apologética risível. Se esse sentimento de ofensa tivesse sido maior propagado dentro do catolicismo eu entenderia, pois realmente a igreja católica tem a questão do objetos sagrados como condição sine qua non à sua profissão religiosa, mas para os evangélicos essa premissa não é verdadeira. A cruz é apenas um símbolo, não tem caráter sacrossanto. O que a cruz representa NÃO pode ser profanado, isso significa que NINGUÉM consegue profanar a cruz de Cristo, o que ela representa é tão infinitamente maior que absolutamente ninguém consegue violar. A alegação de desrespeito ao Senhor também é ridícula, Deus foi tão desrespeitado por ela quanto Ele é desrespeitado em todas as encenações de páscoa, isto é, NÃO HOUVE DESRESPEITO! Por que existiria? Por que ela é transexual? Afirmar tal coisa é, além de tudo, preconceito!

As PESSOAS se sentiram pessoalmente ofendidas (desculpem a redundância) e transferiram esse sentimento para o Divino, que a única coisa que fez foi rir da cara de quem O desrespeitou (como diz Salmos 2:4). Obviamente houve desrespeito à religião, pessoas utilizaram objetos sagrados do catolicismo de maneira horrível, inserindo esses objetos no ânus, alguns estavam trajados de santos e estavam mantendo relações sexuais ao ar livre, isso é extremamente desrespeitoso, mas não contra Deus, mas sim contra a RELIGIÃO e uma coisa nada tem com a outra (até porque os que fizeram isso não representam as pessoas deste movimento).

O problema é que as pessoas que se sentiram ofendidas foram tentar “defender Deus” ao invés de se manifestarem por sua própria consciência (como se Deus precisasse de defesa). Daí, isso inflamou ainda mais esta “guerra”.

A propósito, a apologética tem que surgir quando, dentro da igreja, surgir uma interpretação bíblica que possa trazer condenação eterna aos seguidores desse movimento, não quando alguém, deliberadamente, resolve utilizar algum símbolo religioso.
Essa é minha posição a respeito desta “crucificação”. Não me ofendeu, não desrespeitou a cruz de Cristo, não afrontou a Deus e não carece de defender a minha fé, pois ela está baseada em algo infinitamente maior e mais poderoso: o Sangue de Jesus que nos purifica de TODO o pecado (1 João 1:7)
A segunda coisa que “inflamou” a guerra foi a liberação do casamento gay nos Estados Unidos, novamente, nas redes sociais, vemos um movimento evangélico contrário a essa liberação. Não entendo o motivo. A argumentação de alguns é porque essa liberação modifica o conceito de família tradicional, que família é homem, mulher e filhos. Novamente tentamos empurrar nossas convicções religiosas goela abaixo de todos. Como cristãos entendemos, ou deveríamos entender, que o homem (entenda humanidade) é 100% depravado, não quantitativamente, mas qualitativamente e precisa de Deus. Sendo assim, por que, raios, vocês acham que as leis seriam feitas de acordo com a vontade de Deus?

Dentro de uma sociedade 100% inclinada ao pecado há de se buscar o mínimo de justiça, para que uma pessoa não sobrepuje a outra e, nesse aspecto, a lei que libera o casamento homo afetivo é justa, pois garante direitos de cônjuge a pessoas que viveram suas vidas inteiras juntas, construíram patrimônio, foram cumplices e etc.

Vamos a uma situação hipotética: Dois homens (chamados de A e B) vivem juntos por 40 anos, eles compram todos os seus pertences no nome do homem “A”, entretanto, este veio a falecer, se o homem “B” não tiver direito de cônjuge, os bens que estavam no nome do homem “A” vão para os demais membros vivos de sua família e não para a pessoa com quem ele partilhou toda sua vida. Isso parece justo? Não parece e não é!
Se me perguntarem se sou "a favor" do casamento gay eu digo que sim, sou plenamente a favor do casamento gay, observando do âmbito legal. É importante assegurar direitos à todas as pessoas. Faz diferença se em um pedaço de papel estiver escrito “União Estável” ou “Certidão de casamento”, se na prática ambos são a mesma coisa?
O conceito de família na bíblia NÃO mudou, família, para Deus, continua sendo homem, mulher e filhos e isso NUNCA vai mudar. Mas essa convicção é nossa, dos cristãos. Vamos continuar não aceitando o casamento gay como união legítima perante a igreja e perante Deus, mas perante a lei é fundamental que respeitemos isso.

A terceira coisa que está “inflamando” esta guerra é a porcaria da fotinho com o arco-íris, vi vários evangélicos dizendo que este é o símbolo da aliança de Deus com a humanidade e não o símbolo da união de pessoas do mesmo sexo. Bom, essa modinha está mesmo chata, quase tive um AVC com tanta cor, mas sabem o que fiz? Usei menos o Facebook! Se me incomoda, sou eu quem devo me retirar e não forçar as pessoas a parar de usar.

Sim, o arco-íris é símbolo da aliança de Deus com o homem e isso também NUNCA vai mudar, mas constantemente vemos sua utilização em outras situações, terra dos gnomos, lar dos smurfs, ponte entre a Terra e o mundo das fadas (Padrinhos Mágicos rs), situação de alguém que usou LSD, símbolo da igreja Deus é amor etc, mas só implicamos com os gays, por que será? Se não pode uma, não pode nenhuma.

A aliança que este símbolo representa tem que estar no nosso coração e não apenas no alcance dos olhos, não importa como usem esse símbolo ele DEVE continuar significando a mesma coisa PARA NÓS.

Mas já que querem dissociar, vamos pensar da seguinte forma: o arco-íris que Deus fez tem 7 cores, o que os homossexuais usam tem 6. Pronto problema resolvido.

Cuidem para se manter fortes e inabaláveis, agindo em amor, propagando o Reino e a Sua Justiça, pois a Justiça de Deus a Ele pertence.

Como diria Bispo Robinson Cavalcanti “A missão da igreja é manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de deus que será consumado ali e além.” Sem guerras particulares, mas evidenciando o AMOR de Deus que deve resplandecer em nós, remidos pelo sangue do Cordeiro.

E tenho dito.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Nos prevenindo de heresias

Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.
Atos 17:11

Examinar as escrituras: como devemos fazer?

Depois que o menino se foi, Davi saiu do lado sul da pedra e inclinou-se três vezes perante Jônatas, com o rosto no chão. Então despediram-se beijando um ao outro e chorando; Davi chorou ainda mais do que Jônatas.1 Samuel 20:41

Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres. 2 Samuel 1:26

Bom, diante desses dois versículos, podemos dizer que Davi era homossexual, ou tinha um relacionamento homo afetivo com Jonatas e pasme, isso está na bíblia!

Vocês podem dizer que estou interpretando os versículos de maneira isolada e incoerente e vocês têm razão. A interpretação aqui está incorreta, para atender aquilo que eu quero falar.

Mas e quando a heresia tem aparência de verdade?

Você pode dizer: “ah, o Espírito Santo nos revela”.

Eu digo que realmente, nos revela, de forma maravilhosa, mas temos dado ouvido ao Espírito de Deus?

De que forma podemos dar ouvido à voz do Espírito?

Tentarei responder a essas perguntas, de maneira simples, mas buscando sempre estar condizente com o que diz as Escrituras Sagradas.

Em Atos dos Apóstolos, Lucas (que era médico) nos relata que os membros da igreja de Bereia eram diligentes, tinham a preocupação de observar as escrituras para saber se o que estavam dizendo era condizente com a Verdade. Mas como eles faziam isso? Será que só conferiam o texto para saber se ele realmente estava nos Escritos sagrados?
Com toda certeza, não!

Pois percebemos que a simples conferencia pode ajudar a perpetuar uma heresia.

Eles examinavam as escrituras, buscando o verdadeiro significado do texto bíblico, levando em consideração o texto em si, o contexto histórico, contexto cultural, qual era o entendimento que os Judeus tinham sobre o assunto.

No grego o trecho diz kata hmera anakrinw taV  grafh (Katah hemera anakrino tav graphe) cujo sentido mais amplo seria: Analisavam profundamente todos os dias as escrituras. Trazendo para a modernidade, eles faziam a análise teológica do texto.

Não estou, com isso, tentando convencer ninguém a fazer um curso de teologia, ou uma faculdade teológica (embora isso fosse muito útil e válido), mas, antes, buscar o real sentido do texto que foi usado em uma mensagem como esta, por exemplo. Coloquem a prova tudo o que for dito, verifiquem nas escrituras, busquem a interpretação correta do texto. Para interpretar melhor o texto, esqueçam que a bíblia está dividida em versículos e capítulos, pois muitas vezes nosso entendimento fica maculado com os velhos paradigmas que já nos foram inculcado. Lembrem que o texto original é inteiro, sem divisões, se for preciso, copiem o trecho em formato de texto direto, sem observar a divisão por versos.
Mas e o Espirito Santo, ele não revela?

Sim, o Espírito Santo revela, mas de que maneira você busca isso? Trata o Espírito como oráculo? Pois, se for, obviamente a resposta não será satisfatória. Para que o Espírito Santo revele, precisamos entender que ele não vai se comportar de maneira oracular, ou seja, ele não vai, simplesmente, colocar isso em você de maneira inconsciente ou extraordinária, ele até tem poder para tal, mas ele quer que você entenda de maneira consciente, plena e para isso ele proporcionará a você condições para fazê-lo de modo coerente e perfeito. Para isso, novamente digo, é necessário analisar a própria palavra de Deus. Além disso, Deus vem se revelando, através de Cristo a mais de dois mil anos e durante esse período centenas de pessoas já discutiram, leram, estudaram, oraram, jejuaram sobre as coisas de Deus, precisamos levar o que eles entenderam em consideração, o Espírito também fala através deles.

A grande problemática disso tudo é que não temos dado ouvido a voz de Deus nem de Seu Espírito Santo, senão não engoliríamos a quantidade absurda de todo tipo de porcaria que as pessoas intitulam de mensagem de Deus.

Vou citar um exemplo do que acontece no dia a dia de nossas igrejas.

“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Tende fé em Deus; Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito” Marcos 11:22:23

“E te deixaste enredar pelas próprias palavras; e te prendeste nas palavras da tua boca” Provérbios 6:2

“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto” Provérbios 18:21

Esses textos são base bíblica para muitos sermões em muitas igrejas e já presenciei pessoas, que diziam estar falando em nome de Deus, através do Espírito Santo, dizerem enormes absurdo usando essas passagens.

A maior delas é a confissão positiva, um ramo da teologia da prosperidade que diz que você sempre tem que falar e pensar positivamente porque as palavras tem poder.

Essa heresia diz “Fale positivamente, pois é isso que Deus houve, determine sua benção, vitória (ou qualquer palavra positiva que vocês queiram colocar aqui), faça positivamente, isto é, seja merecedor da benção, vitória etc, Receba a coisa (benção, vitória etc), pois se você não receber, você não teve fé suficiente e, por fim, conte a coisa (benção, vitória etc) para que outros possam crer, usando palavras como determinar, declarar, exigir. A frase “se for da sua vontade” não é nem lembrada.

Como se ser positivo fizesse com que você fosse mais abençoado, Deus abençoa porque ele é Deus e não porque você é positivo ou deixa de ser, em segundo lugar, ninguém é merecedor de nada, tudo é pela graça e graça é um favor imerecido.

Nossas músicas estão recheadas dessa “confissão positiva” temos vários exemplos disso, em várias músicas (ex: Acredite é hora de vencer, essa força vem de dentro de você, nossos sonhos a gente é quem constrói (Jamile, Campeão Vencedor ou “O melhor de Deus ainda está por vir”, homônimo, Cleber Lucas).

Antes que perguntem, a resposta é Não, as palavras NÃO tem poder, isso é oriundo de um erro de interpretação das escrituras, mas como o assunto é para sabermos como examinar as escrituras, vamos deixar isso para um outro momento.


Voltando ao cerne desta mensagem e já concluindo, para examinar bem as escrituras temos que dialogar com Deus, mas como é que dialogamos com Ele? Lendo a bíblia e orando, ler a bíblia é deixar Deus falar conosco, orar é falarmos com Deus. Às vezes podemos não compreender adequadamente o que Deus quis dizer, aí vamos procurar aqueles que entenderam, os pensadores da bíblia, aqueles que já dialogaram com o Senhor e conseguiram compreender o que Ele disse. Em 2000 anos de história do cristianismo, houve muita gente que conseguiu entender, pergunte a eles. Questione seu pastor, seu professor da EBD, corra atrás do entendimento do Texto Sagrado, isso é de suma importância para o seu desenvolvimento espiritual, você passa a melhor discernir a verdade e estar melhor preparado para responder com mansidão a qualquer um que perguntar a razão da esperança que há em vocês (1 Pedro 3:15)


Referência:
http://www.monergismo.com/textos/seitas_heresias/poder_palavras_antonio.htm

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Reconsiderando o Aniquilacionismo Evangélico - Uma Análise do Pensamento de John Stott sobre a Não-Existência do Inferno

Desta vez trago um texto que não é de minha autoria. 

O texto não é tão simples e foge um pouco do objetivo desse blog, que é trazer a teologia de modo simples, levando em consideração as experiências pessoais, mas entendo ser interessante para melhor formulação do nosso entendimento sobre a morte eterna, por esse motivo estou postando este artigo. 

O assunto surgiu em uma conversa com meu irmão (de sangue) que defende a ideia de um aniquilamento total dos impios. Li alguns artigos e livros a respeito, tanto contrários, quanto a favor, fundamentei meu pensamento e encontrei minha linha de raciocínio expressa de maneira singular no texto de James I. Parker que li  no site monergismo.com. Os direitos autorais deste texto pertencem a Editora Os Puritanos. Sem mais delongas, segue o texto. Espero que apreciem.


Reconsiderando o Aniquilacionismo Evangélico
Uma Análise do Pensamento de John Stott sobre a Não-Existência do Inferno 

por
James I. Packer


O evangelicalismo é definido de várias maneiras por diversos tipos de pessoas. Eu o defino como a religião dos crentes da Bíblia Trinitariana que se gloriam na cruz de Cristo como a única fonte de paz com Deus e buscam compartilhar a sua fé com os outros; e eu noto que o evangelicalismo ocidental (para não irmos mais adiante), como o liberalismo protestante, o catolicismo romano de toda espécie, e o ortodoxismo oriental, tem um padrão propriamente seu. Dentre os fatores que formaram esse padrão durante os últimos cinqüenta anos incluem-se o ensinamento dogmático, devocional, apologético e ativista ministrado nas igrejas evangélicas e em movimentos paraeclesiásticos; a literatura (livros, jornais, revistas) produzida pelos evangélicos; a sensação de uma fidelidade superior à Bíblia, seu Deus e seu Cristo, que as instituições evangélicas cultivam; uma sensação de estar sendo ameaçado pelos enormes batalhões do protestantismo liberal, catolicismo romano e instituições seculares, que os leva a vociferar quando esses fundamentos ideológicos são discutidos; a obstinação por um evangelismo atuante; e o costume de transformar estudiosos e líderes em gurus, de onde surge um sentimento de ultraje e traição se percebem que eles estão andando fora da linha. Dentro da distintiva identidade corporativa do evangelicalismo introduziram-se uma consciência de privilégio e vocação, uma mentalidade envolvente e persistente, a discussão de temas irrelevantes, uma certa violência verbal e uma tendência de atingir nossos próprios feridos.
Ainda não está claro se o recente restabelecimento da confiança e o crescimento de uma vida intelectual [1] do movimento estão ou não amadurecendo esse padrão ainda verde; entretanto, sem dúvida alguma, os fatores citados acima se tornaram evidentes enquanto os evangélicos discutiam o aniquilacionismo entre si nos últimos dez anos.
Idéias aniquilacionistas têm sido debatidas entre os evangélicos por mais de um século [2], mas nunca se tornaram parte da corrente principal da fé evangélica [3], nem sequer foram largamente discutidas no meio evangélico até recentemente. Em 1987, Clark Pinnock escreveu um artigo bombástico de duas páginas entitulado “O Fogo, e Nada Mais” [4], mas que, apesar de amplamente lido, não provocou maiores discussões do que uma exposição de quinhentas páginas sobre o assunto: “O Fogo que Consome” (1982), publicada por Edward William Fudge [5], talentoso leigo das Igrejas de Cristo. Entretanto, em 1988, surgiram dois curtos trabalhos de defesa, ambos de veteranos evangélicos anglicanos: oito páginas de John Stott em “Essentials” [6], e dez do falecido Philip Edgecumb Hughes em “A Verdadeira Imagem” [7], que puseram o gato no meio dos pombos.
Em uma conferência de 350 líderes em Deerfiield, Illinois, no ano de 1989, eu li um documento pomposamente entitulado “Evangélicos e o Caminho da Salvação: Novos Desafios ao Evangelho: Universalismo e a Justificação pela Fé” [8]. No documento eu ofereci uma linha de pensamento contrária à posição desses dois respeitáveis amigos [9]. A reação foi tal que a conferência se dividiu ao meio sobre a questão da aniquilação. O relatório da Christianity Today (periódico evangélico) dizia:
“Surgiram fortes desentendimentos sobre a posição do aniquilacionismo, doutrina que afirma que as almas não salvas deixarão de existir após a morte... a conferência foi quase que dividida ao meio ao tratar do assunto em suas declarações, e nenhuma renúncia a essa posição foi incluída na resenha final da conferência”. [10]
Depois disso, a pedido de John White, então presidente da Associação Nacional de Evangélicos, o falecido John Gerstner escreveu uma resposta a Stott, Hughes e Fudge sob o título “Arrependei-vos ou Perecereis” (1990) [11]; e em 1992 os documentos apresentados na quarta Conferência sobre Dogmas Cristãos de Edinburgo foram publicados com o título “Universalismo e a Doutrina do Inferno” [12], juntamente com “O Argumento a Favor da Imortalidade Condicional”, de John W. Wenham e “O Argumento Contra o Condicionalismo: Uma Resposta a Edward William Fudge”, de Kendall S. Harmon.
E isso não foi tudo. Livros reafirmando a realidade e eternidade do inferno começaram a aparecer: “Questões Cruciais Sobre o inferno” (1991) [13], de Ajith Fernando; “Um Deus Irado?” (1991) [14], de Eryl Davies; “O Outro Lado das Boas Novas” (1992) [15], por Larry Dixon; “Quatro Opiniões sobre o Inferno” (1992) [16], por William Crocket, John Walvoord, Zachary Hayes e Clark Pinnock; “A Estrada Para o Inferno” (1992) [17], de David Pawson; “O Que Aconteceu Com o Inferno?” (1993) [18], de John Blanchard; “A Batalha Pelo Inferno: Uma Visão Geral e Avaliação do Crescimento do Interesse Evangélico pela Doutrina da Aniquilação” (1995) [19], por David George Moore; “O Inferno Em Julgamento: O Argumento a Favor do Castigo Eterno” (1995) [20], de Robert A. Peterson. Todos estes contestando mais ou menos elaboradamente o aniquilacionismo. Continuava assim a discussão.
O que está em questão aqui? A questão é essencialmente exegética, embora com implicações pastorais e teológicas. E se resume a se, quando Jesus disse que aqueles banidos no julgamento final “irão para o castigo eterno” (Mt 25:46), Ele tinha em vista um estado de tormento que não terá fim, ou um irrevogável fim da existência consciente; em outras palavras (pois assim é colocada a questão), um castigo que é eterno em sua extensão ou no seu efeito. A corrente principal da cristandade sempre afirmou o primeiro, e continua a fazê-lo; evangélicos aniquilacionistas, juntos com muitos Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia e liberais — na realidade quase todos os que não são universalistas — defendem o último. Entretanto desse ponto em diante os evangélicos aniquilacionistas se dispersam e não há unanimidade [21].
Alguns têm asseverado que o aniquilamento ocorrerá imediatamente após a sentença de Jesus no Juízo Final, após um período de tormento no estado intermediário; outros têm pensado que cada pessoa banida da presença de Jesus passará por algum tormento, proporcional em intensidade e extensão ao que cada um merece, até que venha o momento da aniquilação. Alguns baseiam o seu aniquilacionismo em uma antropologia adaptada. Eles argumentam que uma existência eterna não é natural; e que, pelo contrário, desde que nós somos seres pessoais (almas) que vivem por meio de corpos, a separação entre a alma e o corpo extinguirá a consciência. Então, depois da nossa separação inicial (a primeira morte) não há um estado intermediário, apenas uma inconsciência que continuará até a ressurreição, e depois dos descrentes ressuscitados serem banidos da presença de Cristo, as suas consciências finalmente cessarão (segunda morte) quando, e porque, os seus corpos ressurretos deixarão de existir. Entretanto, alguns que raciocinam desta forma, na verdade, afirmam que há um estado intermediário consciente, com alegria para os santos e sofrimento para os ímpios, como sempre foi o consenso geral da Igreja. Todos que adotam essa antropologia denominam a sua posição de imortalidade condicional, expressão cunhada para mostrar que a existência após a morte que as religiões imaginam e que a maioria, se não todas, deseja, é uma dádiva que Deus concede somente aos crentes, enquanto que Ele, cedo ou tarde, simplesmente extingue o resto de nossa raça. A existência eterna está, portanto, condicionada à fé em Jesus Cristo, e a aniquilação é a alternativa para os demais [22].
Historicamente, essas são opiniões do século passado. O século dezenove foi uma era de audaciosos desafios a suposições antigas, sonhos audaciosos de fazer as coisas melhores, e empreendimentos audaciosos, tanto intelectuais como tecnológicos, para realizá-los. O ensinamento cristão histórico sobre o inferno era posto em questão à luz da convicção utilitariana e progressista de que a retribuição em si, sem qualquer perspectiva de alguma coisa ou alguém ser melhorado por ela, não é justificativa suficiente para a punição, desconsiderando o castigo eterno. Partindo desse ponto de vista a idéia de que o ato de Deus manter alguém em permanente tormento após a morte era indigno dEle e, portanto, a posição tradicional sobre o castigo eterno deve ser abandonada, devendo-se encontrar outra maneira de explicar os textos que parecem ensiná-la. Revisionistas da Bíblia desenvolveram duas maneiras de fazer isso, ambas essencialmente especulativas, à maneira de Orígenes, que usava a filosofia da época para estabelecer uma estrutura da forma de interpretação dos textos e para preencher as lacunas nos seus ensinamentos. O primeiro método era o universalismo, que diz que todos os seres humanos estarão por fim no céu, e especula em como, através de dolorosas experiências, os que morrem na incredulidade conseguirão isso. A segunda maneira é o aniquilacionismo, o qual afirma que os que estarão no céu serão por fim todos os humanos, e especula sobre quando os incrédulos serão aniquilados. Os argumentos utilizados pelos aniquilacionistas de hoje são essencialmente os mesmos dos seus predecessores do século passado.
Duas advertências pastorais e teológicas devem preceder nossas considerações a esses argumentos.
1) Opiniões sobre o inferno não devem ser discutidas fora das linhas do Evangelho. Por quê? Porque é somente em conexão com o Evangelho que Jesus e os autores do Novo Testamento falam do inferno, e a maneira bíblica de lidar com temas bíblicos é levar-se em consideração tanto as suas conexões bíblicas, quanto a sua substância bíblica. Como diz Peter Toon:
“... a pregação e o ensino de Jesus com relação ao Geena, trevas e condenação estavam relacionados com a Sua proclamação e exposição do reino de Deus, salvação e vida eterna; eles nunca são expostos como assuntos independentes para reflexão e estudo. Renomados teólogos [23] têm muito enfatizado este último ponto. ... o inferno é parte integrante do Evangelho e portanto não pode ser deixado de fora ... . Advertir as pessoas para que evitem o inferno significa que ele é uma realidade, ou pode vir a ser uma realidade. Portanto, é inevitável que tentemos oferecer uma descrição do inferno pelo menos em termos de poena damni (dor pela perda da alegria) e possivelmente de poena sensus (dor dos sentidos, ou seja, através dos sentidos) mas ... sempre reconhecemos que falamos figuradamente”. [24]
A idéia cristã do inferno não é um conceito isolado de sofrimento apenas por sofrimento (a divina “selvageria”, “sadismo”, “crueldade” e “vingança” do qual os aniquilacionistas acusam os crentes que declaram o inferno eterno) [25]; mas uma noção biblicamente formada por três misérias equivalentes, que são: a exclusão da presença e comunhão graciosa de Deus, em castigo e com destruição sobre aqueles que, ao negarem as misericórdias de Deus, já rejeitaram o Pai e o Filho nos seus corações. A justiça do juízo final de Deus, o qual Jesus administrará, de acordo com o Evangelho, está em duas coisas: primeiro, o fato de que o que as pessoas recebem não é apenas o que elas merecem, mas o que elas na verdade escolheram — isto é, existir para sempre sem Deus e conseqüentemente sem nenhum dos bens que Ele concede; segundo, o fato de que a sentença é proporcional ao conhecimento da Palavra, obra e vontade de Deus, que foram desconsideradas (Cf. Lc. 12:42-48; Rm1:18-20, 32, 2:4,12-15). De acordo com o Evangelho, o inferno não é uma selvageria imoral, mas uma retribuição moral, e discussões sobre a sua extensão para os seus habitantes devem ocorrer dentro desse quadro.
2) Opiniões sobre o inferno não deveriam ser determinadas por considerações do bem-estar. Diz John Wenham: “Acautelai-vos da imensa atração natural por qualquer saída que os livre da idéia de pecado e sofrimento sem fim. A tentação de torcer o que deveriam ser declarações completamente rígidas das Escrituras é intensa. É a situação ideal para uma racionalização inconsciente” [26].
Diz John Stott:

“Eu acho o conceito de tormento consciente eterno emocionalmente intolerável e não compreendo como as pessoas conseguem conviver com isso sem cauterizar seus sentimentos ou esfacelá-los com a tensão. Mas as nossas emoções são um guia instável, não confiável para nos conduzir à verdade e não devem ser exaltadas ao lugar de suprema autoridade em determiná-la ... minha pergunta deve ser — e é — não o que me diz o meu coração, mas, o que diz a Palavra de Deus?” [27].
Ambos adotaram o aniquilacionismo, no que estão errados, mas eles o admitem por uma justa razão — não porque é uma idéia que se ajustou confortavelmente às suas convicções, apesar de tê-lo feito, mas porque eles pensaram tê-lo encontrado na Bíblia. Qualquer que seja nossa posição sobre a questão, nós também devemos ser guiados pelas Escrituras e nada mais.
1) O primeiro argumento é a necessidade de explicar “castigo eterno” de Mateus 25:46, que está diretamente relacionado com “vida eterna”, sem que traga necessariamente a implicação de eternidade. Admitindo-se que, como é corretamente defendido, “eterno” (aionios) no Novo Testamento significa “que pertence à era porvir” em vez de expressar qualquer noção diretamente cronológica, os escritores do Novo Testamento são unânimes em concluir que o tempo porvir será eterno. Então o problema dos aniquilacionistas permanece no mesmo lugar que estava. A afirmação de que, na era por vir, a vida é alguma coisa contínua, enquanto que o castigo é algo com um final, torna a questão evasiva. Basil Atkinson, “um excêntrico bacharel acadêmico”, de acordo com Wenham [28], mas um filologista profissional, e mentor de Wenham e Stott nessa matéria, escreveu:
“Quando o adjetivo aionios significando “eterno” é usado no grego juntamente com substantivos de ação, ele se refere ao resultado da ação, não ao processo. Assim a expressão “castigo eterno” é comparável a “redenção eterna” e a “salvação eterna”, todas expressões bíblicas ... os que se perdem não passarão eternamente por um processo de castigo mas serão punidos uma vez por todas com resultados eternos”. [29]
Embora essa declaração seja constantemente feita por aniquilacionistas, que de outra maneira não poderiam erigir sua posição, ela carece de apoio gramatical e em qualquer caso torna a questão evasiva quando assume que o castigo é um evento momentâneo ao invés de contínuo. Embora, porventura, não seja absolutamente impossível, o raciocínio parece artificial, evasivo, e, em uma avaliação final, desamparado.
2) O segundo argumento é que, uma vez que a idéia de imortalidade intrínseca da alma (isto é, do indivíduo consciente) deixa de ser considerada como uma intromissão platônica na exegese do segundo século, parecerá que o único significado natural de morte, destruição, fogo e trevas no Novo Testamento como indicadores do destino dos ímpios é de que tais pessoas deixam de existir. Mas tal afirmação quando submetida à prova mostra estar errada. Para os evangélicos, a analogia das Escrituras, isto é, o axioma da sua coerência e consistência intrínsecas e sua capacidade de elucidar ela mesma os seus ensinos, é uma regra para toda interpretação, e, embora haja textos que, tomando-os isoladamente, podem conter implicações aniquilacionistas, há outros que de forma alguma podem se encaixar nesse esquema. Mas nenhuma teoria que se propõe a explicar o significado da Bíblia e não abrange todas as Suas principais declarações pode ser verdadeira.
Judas 6 e Mateus 8:12; 22:13, 25:30 mostram que as trevas significam um estado de privação e aflição, mas não de destruição no sentido de deixar de existir. Somente aqueles que existem podem chorar e ranger seus dentes, como é dito dos que serão lançados nas trevas.
Em nenhuma parte a morte significa extinção; morte física é a partida para outra forma de existência chamada sheol ou hades, e morte metafórica é uma existência sem Deus e Sua graça; nada na terminologia bíblica garante a idéia, encontrada em Guillebaud [30] e outros, de que “a segunda morte” de Apocalipse 21:11, 20:14, 21:8 significa ou refere-se à extinção da existência.
Lucas 16:22-24 nos mostra, como também uma grande quantidade de linguagem apocalíptica extra-bíblica, que fogo significa uma existência continuamente em tormento, e as arrepiantes palavras de Apocalipse 14:10, 19:20, 20:10 e de Mateus 13:42,50 confirmam isso.
Em 2 Tessalonicenses 1:9 Paulo explica, ou amplia, o significado de “sofrerão penalidade de eterna (aionios) destruição” adicionando “banidos da face do Senhor” — expressão que, por denotar exclusão, joga por terra a idéia de que “destruição” significa extinção. Somente aqueles que existem podem ser excluídos. Tem sido freqüentemente demonstrado que no grego o significado natural das palavras relacionadas a destruição (substantivo, olethros; verbo, apollumi) é arruinar, de forma que o foi destruído fica, a partir de então, inutilizado, ao invés de propriamente aniquilado, de maneira que passa a não mais existir de forma alguma.
Os aniquilacionistas se defendem com especial argumentação. Às vezes, eles argumentam que tais textos que falam de um tormento contínuo fazem referência somente a uma experiência temporária para os que se perdem antes de deixarem de existir, mas isso é tornar a questão evasiva através de uma exegese especulativa e renunciar a sua declaração original de que o Novo Testamento, quando fala de perdição eterna, sugere naturalmente a extinção. Peterson cita John Stott, no que ele chama de “o melhor argumento aniquilacionista” [31]. O trecho a seguir faz comentários às palavras “A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos” de Apocalipse 14:11.
O próprio fogo é chamado “eterno” e “inextinguível”, mas seria muito estranho se o que fosse ali atirado provasse ser indestrutível. A nossa expectativa deveria ser o oposto: o que for ali atirado deve ser consumido eternamente, não atormentado eternamente. Por isso existe a fumaça (evidência de que o fogo fez o seu trabalho) que “sobe pelos séculos dos séculos”.
“Pelo contrário”, contra-argumenta Peterson, “nossa expectativa seria de que a fumaça se extinguiria uma vez que o fogo já tivesse terminado o seu serviço ...”. O restante do verso confirma nossa interpretação: “e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem” [32]. Para isso parece não haver resposta.
Portanto, o argumento lingüístico fracassa em todos os seus pontos. Dizer que alguns textos, tomados isoladamente, poderiam significar a aniquilação, não prova absolutamente nada quando outros evidentemente não o fazem.
3) O terceiro argumento é o de que o fato de Deus aplicar eternamente um castigo aos perdidos seria algo injusto e desproporcional. Stott escreve: “eu questiono se o 'tormento eterno e consciente' é compatível com a revelação bíblica de justiça divina, a menos que talvez (como tem sido argumentado) a impenitência dos ímpios também perdure ao longo da eternidade” [33]. A incerteza expressa pelo “talvez” de Stott é estranha, por isso não há nenhuma razão para se pensar que a ressurreição dos ímpios mudará o seu caráter, e sim toda a razão para se supor que a sua rebeldia e impenitência continuarão enquanto eles existirem, tornando o eterno exílio da comunhão de Deus plenamente apropriado; mas, deixando isso a parte, é evidente que o argumento, se fosse válido, provaria coisas demais e terminaria solapando a própria causa aniquilacionista.
Mas se, como sugere o argumento, é desnecessariamente cruel para Deus manter os que se perdem existindo para serem atormentados, porque a Sua justiça no caso não requer isso, como os aniquilacionistas podem justificar, em termos da justiça de Deus, o fato dEle os fazer passar por qualquer tipo de tormento após a morte. Por que a justiça, que desse ponto de vista requer a aniquilação de qualquer forma, não se satisfaz com uma aniquilação no momento da morte? Os aniquilacionistas bíblicos, que não podem escapar da expectativa bíblica da ressurreição final de crentes e incrédulos para o julgamento, também admitem que haverá alguma dor imposta após o julgamento e antes da extinção; mas se a justiça de Deus não requer nada além da aniquilação, e portanto não requer essa dor, ela se torna uma crueldade desnecessária, sendo Deus assim, conseqüentemente, acusado de cometer a mesma falta da qual os aniquilacionistas ansiosamente querem provar que Ele é inocente e também condenam a corrente principal do pensamento cristão por sua inferência. Enquanto que, se a justiça de Deus realmente não requer nenhuma punição em adição à aniquilação, e a contínua hostilidade, rebeldia e impenitência dos ímpios para com Deus permanece uma realidade após suas mortes, não haverá momento algum em que seja possível tanto para Deus como para o homem dizer que castigo suficiente já foi aplicado, que já não merecem mais do que já receberam, e qualquer punição a mais além disso seria injusta. Dessa forma o argumento retorna aos seus proponentes como um bumerangue, impelindo-os de volta e deixando-os sem poder escapar das garras do seu dilema. Basil Atkinson foi mais sábio e declarou: “eu tenho evitado ... qualquer argumento sobre o estado final dos ímpios baseado no caráter de Deus, o que eu consideraria uma irreverência tentar avaliá-lo” [34]. Sem dúvida ele anteviu as dificuldades a que tal argumento conduz.
4) O quarto argumento é o de que a alegria dos santos no céu seria arruinada pelo fato de saberem que alguns continuam debaixo de merecida punição. Mas não se pode dizer isso de Deus, como se a manifestação da Sua santidade na punição doesse mais a Ele do que aos ofensores; e desde que no céu os cristãos serão semelhantes a Deus, amando o que Ele ama e se regozijando em toda manifestação Sua, incluindo a manifestação da Sua justiça (na qual os santos, pelas Escrituras, na verdade já se alegram neste mundo), não há razão para imaginar que a sua alegria eterna será prejudicada dessa forma [35].
É desagradável contestar honrados colegas evangélicos através de uma matéria impressa, alguns dos quais são bons amigos e outros (eu falo particularmente de Atkinson, Wenham e Hughes) agora já se encontram com Cristo. Portanto, paro por aqui. Meu propósito era apenas reconsiderar o debate e avaliar a força dos argumentos utilizados, e isso eu fiz. Eu não estou certo se concordo com Peter Toon quando diz que “discussão sobre se o inferno significa castigo eterno ou aniquilação após o juízo ... é tanto perda de tempo como uma tentativa de saber daquilo que não podemos saber” [36], mas eu estou convencido de que ele está certo em dizer que o inferno “faz parte do Evangelho” e que “advertir as pessoas para que evitem o inferno significa que ele é uma realidade” [37]. Todo aquele que se decide por advertir as pessoas para que evitem o inferno pode andar em comunhão no seu ministério e legitimamente reivindicar ser um evangélico. Quando John Stott argumenta que “a aniquilação final do ímpio deveria ser aceita como uma alternativa legítima e biblicamente fundamentada para o eterno e consciente tormento” [38], ele pede demais, pois os fundamentos bíblicos dessa posição, quando examinados, provam, como vimos, que são inadequados. Seria errado porém, se essas diferenças de opinião quanto ao assunto levassem ao rompimento da comunhão. Entretanto seria uma boa coisa se elas fossem resolvidas. 


Notas:
[1] - No Place for Truth (Nenhum Lugar para Verdade - Grand Rapids: Eerdmans, 1993) de David Wells e Mark Noll, The Scandal of the Evangelical Mind (O Escândalo da Mente Evangélica - Grand Rapids: Eerdmans, 1994), contam só parte da história. Admitindo-se que a teologia evangélica em algumas partes e sobre alguns aspectos tem sido deformada e fragmentada, a energia que atualmente vem sendo dedicada para recuperá-la aqui, é notável.
[2] - Detalhes podem ser recolhidos de LeRoy Edwin Froom, The Conditionalist Faith of Our Fathers (A Fé Condicional de Nossos Pais - Washington, D. C.: Review and Herald, 2 vols., 1965-66), e de David J. Powys, “The Nineteenth and Twentieth Century Debates about Hell and Universalism”, (O Debate sobre Inferno e Universalismo no Século 19 e 20 - Uníversalism, Paternoster Press, e Grand Rapids: Baker, 1992), 93138.
[3] - Eu declarei isto em “The Problem of Eternal Punishment” (O Problema do Castigo Eterno - Crux XXVI.3 - 23/09/90. John Wenham desafiou fundamentado em que os evangélicos falaram muito sobre o assunto na segunda metade do século 19, que ele chamou “o auge do condicionalismo entre evangélicos” (Universalism. ., 181 e nota 27). Mas conversação e convicção não são a mesma coisa. A evidência para minha afirmação encontra-se no fato de que três dos “quatro melhores livros que defendem o aniquilacionismo” segundo Robert A. Peterson, (Hell on Trial - Inferno em Julgamento - Phillipsburg: Presbyterian & Reformed Publishing, 1995, 161-62); The Righteous Judge, de Harold E. Guillebaud (O Justo Juiz - publicação independente, 1964); Basil F. C. Atkinson, Life and lmmortality (Vida e Imortalidade - publicação independente, n.d.c. 1968; e Edward William Fudge, The Fire That Consumes (O Fogo Que Consome), não foram publicados por nenhuma publicadora evangélica influente.
[4] - Christianity Today (Cristianismo Hoje), 20 de março de 1987, 40-41. Pinnock ampliou sua linha de pensamento em “The Destruction of the Finally Impenitent” (A Destruição do Impenitente a Final - Criswell Theological Review 4 (Primavera 1990), 243-59.
[5] - Houston: Providential Press, (Imprensa providencial), 1982. O livro de Fudge foi notado e respondido de forma breve por Robert UM. Morey, Death and the Afterlife(Morte e a Vida após a morte - Minneapolis: Bethany House, 1984), 124ff., 205. Uma edição revisada e reduzida, com as respostas de Fudge aos críticos, apareceu em 1994 (Carlisle, Reino Unido,: Paternoster Press).
[6] - David L. Edwards e John Stott, Essenhals (Londres: Hodder & Stoughton, 1988), 313-20.
[7] - Grand Rapids: Eerdmans, e Leicester, Reino Unido,: Inter-Varsity Press, 1989, 398-407.
[8] - Kenneth Kantzer e Carl F. H. o Henry, eds., Evangelical Essentials (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 107-36.
[9] - A linha de pensamento foi desenvolvida no artigo de Crux (Ponto Crucial), nota 3.
[10] - Christianity Today (Cristianismo Hoje), 16 de junho de 1989, 60,; 63.
[11] - Ligonier, Pennsylvania,: Soli Deo Gloria Publications (Soli Deo Gloria Publicações), 1990.
[12] - Veja nota 2.
[13] - Eastbourne, Reino Unido,: Kingsway, 1991.
[14] - Bridgend, Reino Unido,: Evangelical Press of Wales (Imprensa Evangélica de Gales), 1991.
[15] - Wheaton: Bridgepoint Books (Victor Books), 1992.
[16] - Grand Rapids: Zondervan, 1992.
[17] - Londres: Hodder & Stoughton, 1992.
[18] - Darlington, Reino Unido,: Evangelical Press (Imprensa Evangélica), 1993.
[19] - Lanham, Maryland,: United Press of América, 1995.
[20] - Veja nota 3.
[21] - Para uma consideração geral, veja David J. Powys, ""The Nineteenth & Twentieth Century Debates about Hell and Universalism," in Universalism. . ., (Debate sobre Inferno do Século 19 e 20 e Universalismo), em Universalism. . ., 93-129.
[22] - Além de seus expoentes evangélicos modernos, o condicionalismo tem tido o apoio de uma grande parte do protestantismo mundial durante os últimos 150 anos. Veja B. B. Warfield, " Annihilationism" (Aniquilacionismo-Grand Rapids: Baker, 1981), ix., 447-57; Peter Toon, Heaven and Hell (Céu e Inferno - Nashville: o Thomas Nelson, 1986), 17S81;artigos "Annihilationism" (Aniquilacionismo) e Conditional Immortality" (Imortalidade Condicional - Dicionário Evangélico de Teologia - Walter UM. Elwell, ed. Grand Rapids: Baker,1984).
[23] - Ibid., 199.
[24] - Ibid., 200-201.
[25] - “Selvageria” é de Michael Green, Evangelism through the Local Church (Evangelismo pela Igreja Local - Londres: Hodder & Stoughton, 1990); “sadismo” é de J. W. Wenham, Universalism. . . (Universalismo ...), 187; as outras duas palavras são de Clark Pinnock, Criswell Theological Review 4 (1990), 246.
[26] - Wenham, The Enigma of Evil (O Enigma do Mal - Grand Rapids: Zondervan, 1985), 37-38.
[27] - Stott, Essentials, 315-16.
[28] - Wenham, Universalism ... (Universalismo...), 162, note 3.
[29] - Atkinson, Life and lmmortality (Vida e Imortalidade), 101.
[30] - H. E. Guillebaud, The Righteous Judge (O Justo Juiz), 14.
[31] - Peterson, Hell on Trial (Inferno em Julgamento), 162. Wenham descreve as páginas de Stott como um “tratamento leve”, (Universalism. . ., 167). O julgamento de Peterson me parece mais perspicaz.
[32] - Ibid., 168-69; Stott citando, Essentials, 316.
[33] - Ibid., 319.
[34] - Ibid., iv.
[35] - Estas sentenças são principalmente retiradas de Packer, art. cit, 23. 36 Ibid., 201.
[37] - Ibid., 250.
[38] - Ibid., 320.39 Fonte: Revista Fides Reformata 


Dr. James Packer, antigamente Professor de Teologia no Regent College, Vancouver; desde 1979, Editor Senior da Chrishanity Today e um professor muito ocupado. Ele disserta amplamente, escreve extensivamente, e é o distinto autor de numerosos best-sellers. Ele contribuiu para Reformation & Revival Journal.