domingo, 22 de março de 2015

O Reino de Deus

Introdução.
O Reino de Deus é uma das questões mais importantes das três maiores religiões monoteístas (Cristianismo, Judaísmo, Islamismo), todas esperam um governo divino de justiça, paz e amor, cada uma tem sua nuance, mas de modo geral a esperança escatológica sempre estará presente no anseio pela inauguração do REINO DE DEUS.
Obviamente, neste texto temos o intuito de estudar a questão do Reino sob a perspectiva cristã, desta maneira observaremos o que nos diz os escritores bíblicos e analisaremos seus textos para que haja maior compreensão.

O que é o reino?
Primeiramente vamos definir o que é significa reino. Segundo o dicionário, reino é um país ou estado governado por um monarca que se intitula REI. Reino também é o conjunto de súditos de uma monarquia. Reino é ainda lugar ou esfera que alguém domina1.
Então podemos questionar, quando se dará a inauguração do reino de Deus, onde ele governará? Nos Céus? Na Terra?
A bíblia, desde o antigo testamento, mostra a promessa de Deus que teria um reino governado por ele. No início, o Reino de Deus era toda extensão de sua criação, entretanto, depois da queda do homem e da criação e a destituição da Glória de Deus, o reino foi “contido” de modo com que torna necessária a promessa do “Segundo Adão” para que o reino fosse restabelecido. O povo de Israel deveria servir de alusão ao reino, um referencial para o mundo de como seria o domínio de Deus e deste modo a impelir no mundo o desejo de fazer parte dele. Entretanto Israel falhou neste processo. Nos próprios Escritos Sagrados poderemos obter as respostas para as perguntas formadas acima.
No livro do profeta Daniel, no capítulo 2, vemos o seguinte cenário: O Rei Nabucodonosor tem um sonho e chama Daniel para interpretá-lo. Ele interpreta que a estatua representa 4 reinos e no verso 44 diz "Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos esses reinos e os exterminará, mas esse reino durará para sempre”. Além disso, vemos nos evangelhos passagens como "Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo" (Mt 3:2); “Então chegou a vocês o Reino de Deus”(Mt 12:28B) "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas! " (Mc 1:15).
Essas passagens mostram que o Reino de Deus JÁ chegou, e este reino foi inaugurado com o MESSIAS, primeiro, interpretando Daniel, percebemos que um destes impérios é o Romano e é justamente neste período que nasce JESUS, aquele que estabelece o reino que jamais será destruído. Daí percebemos nos relatos do evangelho, a proximidade do reino durante o ministério de Cristo, até o momento que ele, durante uma discussão diz que o Reino de Deus chegou até eles.
Além disso outras passagens do NT nos remetem a um reino já inaugurado como em Colossenses 1:13 “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado”. Mas após lermos todas essas passagens podemos nos indagar: Mas como o reino já foi inaugurado se não o vemos? Onde está esse reino? Qual local este reino está estabelecido? Onde estão a paz e a justiça que deveria existir após a inauguração deste reino?
Antes de responder a essas perguntas, precisamos entender alguns pontos e algumas características deste reino que devem ser levadas em consideração. A primeira é em relação ao termo “REINO DE DEUS” ou em hebraico הממלכה יהוה (malkuthYaweh) e em grego  βασιλεία τοῦ θεοῦ (basileia tou theou) que muitas vezes é visto como “Reino dos Céus”, principalmente no evangelho de Marcos, o que pode acarretar divergências, entretanto percebemos que esses termos são intercambiáveis, o próprio Jesus utiliza esses termos como sinônimos, como podemos ver em Mateus 19:23-24. A grande problemática é que o termo “Reino dos Céus” nos remete a algo distante, etéreo, enquanto o termo reino de Deus nos remete a um aspecto mais político, geográfico e na realidade não é uma coisa e muito menos a outra.
Segundo SOUSA (2013) O Reino de Deus é a demonstração do poder divino em ação e desta maneira podemos entender que o reino já foi inaugurado através do advento do Messias, já é atuante, mediante ao poder de Deus, tem população/súditos mediante a fé em Cristo, mas não é político e nem geográfico, é invisível, mas não é etéreo, distante, metafísico. Embora seja transcendente também é imanente.

O Já e o ainda não
Pode-se questionar o motivo pelo qual não há a justiça e a paz prometida no reino de Deus, desta maneira podemos entrar na famosa questão do “já e ainda não”. O reino de Deus já foi instaurado, mas ainda não está consumado. O que isso quer dizer? Quer dizer que, por mais que o reino já seja uma realidade e que já possamos nos tornar seus cidadãos, ele só será consumado na segunda vinda de Cristo, espalhando seu domínio por toda criação, restabelecendo a natureza original e fazendo novos céus e nova terra.
A plena compreensão deste termo realmente é muito difícil. Podemos perceber, que mesmo os apóstolos tinham essas dúvidas referentes ao estabelecimento do reino. Pois no entendimento judaico havia a promessa de que o reino seria restabelecido a Israel (AT 1:6), obviamente o trecho aqui não se refere ao reino de Deus, mas sim à esperança escatológica de que a vinda do messias culminaria no fim e que Israel seria restaurado. A primeira vista, parece que os discípulos não aprenderam as lições do mestre e não ouviram o sermão profético (Mt 24), ou parece ainda que os discípulos eram péssimos alunos (e até que isso era verdade), mas o questionamento deles faz sentido. Em todo o AT a promessa da vinda do messias parece estar ligada ao fim, ao estabelecimento do Reino de Deus (de maneira física, visível, militar e política) e a restauração de Israel. E, como sabemos, isso não acontece, pelo menos não do modo com que eles esperavam.
A instauração do reino de Deus se dá com o advento do Messias e que sua plenitude se dará na segunda vinda, entretanto, pode-se afirmar que a interpretação judaica a certa do reino não está incorreta. A escatologia nos diz que o final dos tempos se inicia justamente na primeira vinda, pra ser exato, na ressurreição de Cristo. Então, raciocinando de maneira holística, utilizando o pensamento judaico, o Fim e o Reino são eventos concomitantes, pois o fim começa com a ressurreição, entretanto a consumação deste Reino e o ponto final na história da humanidade ainda se dará na segunda vinda.
Portanto, o reino de Deus já foi inaugurado (já) mas ainda não foi consumado em sua plenitude (ainda não).

Conclusão

O Reino de Deus é promessa contida nos Escritos Sagrados desde o AT, se cumpre no ministério de Jesus, sendo inaugurado com sua vinda e com a certeza de sua consumação na segunda vinda. Hoje, o mundo está sob o poder do maligno (1 Jo. 5:19), O Senhor é o rei de direito, mas ainda não o é de fato, isso não diminui sua soberania ou o limita, mas sim mostra o quão amoroso ele é, não tratando-nos como peças em um tabuleiro, mas permitindo que façamos nossas escolhas.
O reino de Deus é uma realidade, somos súditos do Rei dos Reis, nascidos novamente através do Sangue de Cristo. Que o nosso desejo seja o de mostrar as maravilhas de ser cidadão deste Reino.

Referências Bibliográficas
SOUSA, Umbelina Rodrigues de; O REINO DE DEUS NA TERRA: JÁ E AINDA NÃO; disponível em: http://umbelinars.blogspot.com.br/2013/01/o-reino-de-deus-na-terra-ja-e-ainda-nao.html, acessado em 21/03/2015 as 11:47
SANTOS, João batista Ribeiro santos. Dicionário Bíblico: conhecendo e Entendendo a Palavra de Deus. São Paulo. Editora Didática Paulista, 2006.
http://pt.scribd.com/doc/51557203/O-Ja-e-o-Ainda-Nao-John-Stott#scribd
PINHEIRO, Jorge , Teologia Bíblica e Sistemática – O Ultimato da Praxis Protestante, - São Paulo, Fonte Editorial, 2013
1 Dicionário Google, acesso em 21/03/2015